quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Capítulo 26.

O telefone tocou incessante,nos acordando de maneira nada agradável.
Milla reclamou um pouco,e no fundo eu também não gostei de ser acordada com essa notícia tão chocante.
Uma morte já basta.Duas já é demais!
Ontem um até logo que tornou-se o adeus menos desejável de todos,o que era para ser um encontro de amigos,se tornou o último dos encontros.Pelo menos os que envolvessem Jessey.
-Alô?
-Gostaria de falar com Alissa,por favor.- uma voz abafada que mais parecia um choro encubado.
-Eu mesma.
-Alissa,aqui é a mãe da Jessey e infelizmente não trago boas novas.
-Meu Deus!Está tudo bem com a senhora?Com seu marido?Com a .. Jessey?!- um enorme desejo que nunca ter ouvido o que ouvi.
-Conosco tudo sim,obrigado.Mas com ela..- uma pausa dramática,seguida de um sussuro e juro que pude sentir aquela gota salgada passando pelo rosto dela.- ela.. sofreu um ataque do coração ontem e infelizmente não sobreviveu.
Primeiro sentei-me e contei até dez.Depois,um grito interno,meu mesmo.
A ficha demorou para cair,e quando caiu tentei responder.
-Você está dizendo que a Jessey morreu?
-Exato. - dessa vez não conteve o choro que saiu bem de dentro do coração,agora,partido em mil pedaços.
Não contive também.
Antes de desligar ouvi as últimas palavras,como o dia e horário do enterro,o local e também o necessário para socar o telefone no gancho e chorar como uma criança abraçando David.
Ele sem entender nada chamou por Milla que não pode fazer muita coisa,a não ser chorar também.
Ela ouvira a conversa pela extensão,como de costume,e descobriu no mesmo momento que eu.Um choque para ambas pessoas que tanto amavam aquela mulher!
Acalmei-me e o contei,tentando controlar o choro.
Jamais tinha visto um homem chorar tanto!David desabou e sumiu.
Sumiu até a hora do enterro pelo menos,de roupas e óculos escuros,feito todos ali presentes.
Juan estava acabado,Milla não acreditava no que estava vendo,David manteve a vontade de gritar ali presa controlada,e eu.. ah pobre de mim.Sentei-me em um banco próximo a entrada do cemitério antes mesmo do caixão ser enterrado.
Comecei a falar.Não sozinha,mas com Deus.Recebia vibrações,que acreditando ou não,eram o mais próximo do ruído causado pelo sorriso de Jessey.
-Deus,por que a minha melhor e única amiga?Por quê?!
Dúvidas e lágrimas.Deixáva-as cair perto dos meus lábios,sentindo a salgada dor da perda.
Acostumar-me sem seu bom-humor,sem sua vontade de sonhar,sem suas piadas sempre sem-graça,sem seus conselhos nada aconselháveis mais divertidos,sem a sua presença,sem ela.
Depois fui entender que sua perda foi coisa divina mesmo.Mais tarde,iria perder alguém que sem esse preparo com certeza eu perderia a noção da vida.
Coisas da vida...

Um comentário:

Ana Paula Borges Pereira disse...

Muito bonito o teu texto, a dor da morte é horrível, a dor da perda.=/